Tradução da matéria de Matt Ridley veiculada no The Times UK. Veja aqui.
Se você está lendo isto antes do café da manhã, por favor, considere incluir ovos. Qualquer dia, o governo dos EUA (e daqui a algum tempo, com sorte, o Brasil vai copiar, como de costume) vai aceitar oficialmente o conselho para retirar completamente o colesterol de sua lista de "nutrientes de preocupação". Ele quer também "desenfatizar" a gordura saturada, dada "a falta de provas ligando-a com a doença cardiovascular".
Esta é uma poderosa guinada, ainda que coberta de advertências, há muito tempo esperada. A evidência tem sido a construída há anos: comer colesterol não causa níveis altos de colesterol. A avaliação de 2013 da American Heart Association e da American College of Cardiology não encontrou "nenhuma relação significativa entre o consumo de colesterol dietético e o colesterol sérico (no sangue)".
O colesterol não é um veneno, mas sim um ingrediente essencial da vida, é o que torna as membranas das células animais flexíveis, e é a matéria-prima para fazer hormônios, como a testosterona e estrogênio. Seu fígado produz a maior parte do colesterol encontrado no seu sangue, e ajusta a produção de acordo com o que você ingere, razão pela qual a dieta não determina os níveis de colesterol no sangue. Reduzir o colesterol no sangue alterando (o colesterol d)a dieta é quase impossível.
Também não há qualquer boa evidência de que níveis altos de colesterol provocam aterosclerose, doença cardíaca coronariana ou vida mais curta. Nem sequer é um fator de risco para pessoas que já tiveram ataques cardíacos antes. Em pessoas idosas - ou seja, aqueles que têm a maioria dos ataques cardíacos – quanto mais baixo o colesterol no sangue, maior o risco de morte. Da mesma forma se dá em crianças.
Desde o início, as pesquisas que associaram a ingestão de colesterol e gorduras saturadas de origem animal com doenças cardiovasculares foram não apenas falhas, mas tingidas com escândalo.
Na década de 1950, um surto de doença cardíaca em homens americanos (provavelmente causada principalmente pelo tabagismo – eu diria que também pelo açúcar e pela redução de mortes por doenças infecciosas) levou o fisiologista Ancel Keys para presumir que o colesterol da dieta era o culpado. Mas isto parecia não se encaixar, então ele mudou o foco para a gordura saturada como causa do colesterol alto no sangue. Para provar sua hipótese, ele fez coisas como deixar de fora dados contraditórios, mudar pontos em gráficos e disfarçar sobre fatos inconvenientes. Ele obteve apoio de instituições de caridade e agências estatais e intimidou seus críticos.
Seu estudo mais famoso, o estudo dos sete países, começou muito mais amplo; ele deixou de lado 16 países da amostra, para então obter uma correlação significativa. Adicioná-los de volta faz a correlação quase desaparecer. Escondido em seu dados está o fato de que as pessoas em Corfu e Creta (no mesmo país) comiam exatamente as mesmas quantidades de gorduras saturadas, mas os cretenses morriam 17 vezes mais de ataques cardíacos.
Na década de 1970, o famoso Framingham Heart Study tropeçou no fato de que as pessoas com níveis elevados de colesterol com idade superior a 47 anos (muito antes de a maioria das pessoas terem ataques cardíacos) viveram mais tempo do que aqueles com níveis baixos de colesterol, e que aqueles cujo colesterol caiu enfrentaram maior risco de morte. Mas o ‘consenso’ ignorou este fato e seguiu adiante.
Se desafiados a mostrar evidências para seguir com o conselho de baixar o colesterol, a profissão médica e científica tem usado o argumento da autoridade, apontando para as diretrizes da OMS ou outros compêndios oficiais, e dizer para "verificar as referências lá". Mas essas referências levarão de volta para KEYS e Framingham e outros processos duvidosos. Assim, a má ciência se transforma em dogma. "Um dos grandes mandamentos da ciência é: desconfie de argumentos de autoridade '", disse Carl Sagan.
Eventualmente, a medicina começou a distinguir entre o colesterol e as proteínas que os transportavam, com uma distinção entre as "boas" lipoproteínas de alta densidade, e as "más" de baixa densidade. As placas de gordura nas artérias são feitas em parte por colesterol, é verdade, mas elas se formam em cicatrizes e irregularidades causadas por outros problemas: tabagismo, infecções, danos da idade (inflamação crônica). As lipoproteínas e o colesterol fazem parte do kit de reparação. Não se culpa um ‘motor de fogo’ por um incêndio. Temos confundido efeito com causa.
A batalha ainda não acabou. Os médicos e cientistas que insistem há 20 anos que o culpado não é o colesterol -e que o Rei está Nu-, e que dietas ricas em gordura e baixas em carboidratos são mais seguras, foram condenados ao ostracismo como charlatães e criacionistas da Terra plana. Hábitos arraigados não mudam facilmente. Pessoas como Uffe Ravnskov na Suécia, autor de “Ignore the Awkward: How the Cholesterol Myths are Kept Alive” e Malcolm Kendrick, autor de “The Great Cholesterol Con” e Doctoring Data, não serão tão cedo acolhidos de volta ao rebanho. Um consenso científico pode ser muito intolerante com hereges.
No entanto, o consenso médico (‘mainstream’) também está silenciosamente se afastando de seu conselho anterior de evitar comer colesterol e gordura saturada; está encobrindo com uma cortina de fumaça e redirecionando o seu fogo sobre as gorduras trans (com razão), ou o açúcar. O que está por trás de toda essa conversa sobre os perigos do açúcar nos dias de hoje é uma enorme mudança de paradigma, para longe da dieta de baixo teor de gordura e baixo colesterol. Não vou dizer que o conselho sobre o açúcar também está errado.
De fato, a evidência de que insistir em dietas de baixa gordura levou as pessoas a comer mais carboidratos, o que levou à explosão da obesidade e do diabetes, parecia muito forte - até agora. Afinal, a principal via pela qual o corpo acumula gordura é fabricá-lo a partir de excesso de açúcar no fígado. Mas por que o consumo de carboidratos começar a aumentar tão rapidamente na década de 1960? Pelo menos em parte, por causa do conselho no sentido de evitar carne e queijo. A obesidade e o diabetes são o preço que pagamos encarar a gordura e o colesterol tão errado.
Que tal uma completa investigação para saber como a classe médica e científica fez uma asneira tão épica e causou tanta desgraça para as pessoas? Considere não apenas o dano que foi feito para a saúde da população em geral, através de aconselhamentos dietéticos defeituosos, mas também para a subsistência de produtores de leite e de corte e produtores de ovos. O que tem mais açúcar: uma maçã ou um ovo?
Mas e o que dizer das estatinas? Em homens, elas reduzem o colesterol e também previnem doenças cardíacas. Verdade, mas a conexão não é necessariamente causal. Estatinas fazem um monte de outras coisas, incluindo a redução da inflamação, e por isso que eles diminuem o risco de ataques cardíacos. Há ainda os céticos sobre as estatinas, também, que pensam que os efeitos colaterais de tomá-las não valem a pena, e que muito maior que a evidência em favor delas vem os interesses da indústria farmacêutica.
Nós costumamos pensar que aderir teimosamente a dogmas era um hábito de médicos em séculos passados, mas isso ainda persiste nos dias de hoje. A medicina precisa melhorar no quesito 'mudar de ideia'.
E A GORDURA SATURADA?
Já vem sendo aceito com mais facilidade que o colesterol presente na dieta não influencia os níveis de colesterol sérico e que não tem relação com doença cardiovascular. A imprensa nacional já veicula notícias nesse sentido. Porém, a tese de que as gorduras saturadas fazem mal ainda persiste. Com o tempo, veremos este mito também cair por terra.
LIVRO: A GRANDE E GORDA SURPRESA
Dr. Andreas Eendfelt, do dietdoctor.com, entrevista a autora Nina Teicholz, do New York Times best-seller "The Big
Fat Surprise". Nós sempre escutamos dizer, pelo menos há décadas, que carne, manteiga e queijo fazem mal,
aumentam nosso colesterol e nos causa doença cardíaca, certo? Sim, esta ideia de que manteiga,
carne e queijo são ruins para seu coração nos remete aos anos 1950, quando surgiu
a ideia de que a gordura saturada que estes alimentos continham (todos estes
mencionados contém gorduras, sendo uma parte delas, gordura saturada) aumentava
seu colesterol total e entupia suas artérias, causando ataque cardíaco. Daí que
vem toda a ideia, começando nos anos 1950. E o que o livro faz é explorar
como esta ideia alçou voo e se tornou um dogma antes mesmo de haver boa ciência
demonstrando que fosse verdade. E nunca houve boa ciência por detrás disto. A ciência em questão já foi reconsiderada por diversos outros grupos de cientistas desde então (em grandes estudos clínicos), que verificaram a hipótese e disseram: gordura saturada,
no fim das contas, não causa doença cardíaca. Depois de todos esses anos! E ainda as autoridades,
convincentemente, dizem às pessoas que faz mal comer manteiga, certo? Bem, é uma ideia que está
arraigada por meio século. Então, é muito difícil voltar atrás quando se acredita nisso. Tudo começou quando
a primeira recomendação dietética de não comer gordura saturada, da American Heart
Association, baseada em UM estudo feito por um pesquisador chamado Ancel Keys,
um patologista da Universidade de Minnessota. Ele tinha a ideia de que gordura
saturada causava doença cardíaca e fez este estudo chamado “Estudo dos Sete
Países”, que foi o Big Bang dos estudos em nutrição. Toda a ciência da nutrição
aponta para este primeiro estudo; e houve inúmeros problemas metodológicos
neste estudo, vou apenas mencionar o primeiro: ele
escolheu a dedo os países usados no estudo. Ele escolheu os países que ele sabia que iriam
provar sua hipótese e evitou aqueles que não iriam provar, como Alemanha e
França, onde se come muita gordura saturada e possuem taxas muito baixas de
doença cardíaca. A entrevista segue...para saber mais, não deixe de ler o livro.
Parabéns! Excelente artigo!
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